sábado, 11 de junho de 2016

"Menino, você tem medo de quê?"

A pergunta pairou no ar deixando-me fora do corpo. Era como se a espada do meu inimigo me acertasse em cheio. Eu olhei para as minhas mãos ensanguentadas e, em seguida, apenas disse:

-"Alguma vez você já sentiu uma dor aqui? Sabe, um vazio no estomago que não é fome?  Uma dor na alma, talvez?"

Eu fui feliz. Mas um dia meu coração doeu tanto que todos meus orgãos pararam de funcionar gradativamente. Porque? Não sei. Simplesmente perdi as forças de continuar vivendo.

-"Mas, como assim menino? Você vivia dizendo que tinha medo da morte! O que aconteceu para mudar assim, tão repentinamente?"

Pergunta repetida merece uma resposta. Mas em vez disso, caí no chão e quis desaparecer.  Minhas mãos trêmulas foram sumindo junto com a tinta vermelha-azul do meu sangue. Minha pele parecia  que ia rasgar a qualquer momento.

-" Não faça escândalo, olhe-se no espelho. Você já não é mais menino. Este não é seu fim. Você vai ficar bem!"

Estou cansado deste mundo cinzento e melancólico. Exaurido pela dor física e mental que me consome todos os dias. Estou exausto de ouvir a maldita voz que ecoa em meus ouvidos me condenando a morte solitária sem dó nem piedade. Eu já não posso mais esconder meus segredos debaixo do meu travesseiro. A única coisa que ainda escondo no meu travesseiro são as manchas das lágrimas e as noites assombradas e mal dormidas. Segredos muito bem guardados, para que ninguém possa ver que eu estou com dor e choro as vezes.

-"Mas menino, mesmo depois de se tornar este homem barbado, eu custo acreditar que, ainda, você tem medo da morte. É isso mesmo? Você tem medo de morrer?"

Claro que eu tenho. Sempre tive e sempre terei. Mas, no meu caminho acabei descobrindo que existem dois tipos de pessoas que não temem a morte. Elas não sorriem, não choram, não fazem a menor sugestão de emitir algum tipo som e não demonstram nenhum sentimento. Elas não se movem e nem tentam se proteger. Elas praticamente nem existem e mesmo assim a morte sempre ronda as suas cabeças.

-"E quem são essas pessoas?"

Os corajosos, que temem tanto - mas tanto - a morte a ponto de enfrentá-la; e os doentes, que suplicam por ela, mas ela não os agracia com sua presença.

-"E você, tem medo de quê?"