sábado, 15 de setembro de 2018

"Mas e hoje, faço o quê?"

Hoje pela manhã, sem nem levantar da cama, abri o blackout da janela para iluminar meu quarto. Não tinha ânimo para levantar. Fiquei por alguns minutos imóvel, observando meu quarto vazio e em silêncio, na esperança de que a luz do dia trouxesse a paz que eu tanto procurava.

Me revirei na cama uma ou duas vezes, olhei para o guarda-roupa e uma coisa me chamou atenção: um mini mapa - destes de bolso - recortado e colado em uma das portas, tendo sobre a Índia um circulo vermelho feito por um pincel atômico vermelho - qual roubei do professor de Filosofia - destacando nitidamente meu fascínio por aquele lugar.

Fechei os olhos, e depois de tanto tempo lembrei de um - tive muitos - dos meus sonhos. Um daqueles sonhos de criança, sabe? Tudo que havia acontecido comigo tinha me deixado tão fragilizado, tão desesperado que acabei esquecendo a vontade de ir conhecer a Índia. Alias, eu acabei esquecendo de todos os meus sonhos e acho que nunca mais vou ter forças para tentar realiza-los. Voltei a fechar os olhos e imaginar como seria viajar para Índia. Então, naquele instante, fui tomado por uma tímida energia e uma vontade de querer minha vida de volta, de querer os meus sonhos, de querer sentir novamente as coisas que me traziam felicidade.

Suspirei fundo, coloquei a mão sobre meu peito - ali daquele lado que fica o coração - e pensei comigo: "Bom, o primeiro passo é achar um jeito de acabar com esta maldita e angustiante dor no meu peito. Mas qual jeito? Já tentei de tudo. Desde os cházinhos da minha mãe, as longas terapias psiquiátricas até as diversas drogas - licitas e ilícitas - que me levaram a UTI. Que mais eu devo tentar?". Ainda não sei.

Tomei coragem, levantei e sentei na cama. Olhei pela janela, uma leve brisa morna de outono tocou meu rosto. Forcei a abertura da janela que estava emperrada devido ao longo tempo que eu não abria. Senti minha boca amarga, estômago doendo, uma sensação de estar em outra realidade. Olhei para minhas mãos - trêmulas - esfreguei uma na outra meio que por compulsão e pensei: "Mas e hoje, faço o quê?"

Um canário timidamente começou a chilrear, sentado no pé de ipê ao lado da minha janela. Uma buzina ao longe indicava o inicio da rotina de mais um dia. Que dia, que rotina, que vida!

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