sábado, 29 de dezembro de 2018

"Ela, a Lua" - [parte I]

-"Vai Sol. Vai meu eterno amor. Não importa quanto tempo passe, saiba que eu estarei te esperando para sempre!"

E foi assim que me despedi para sempre de Lua, o meu grande amor. Com um abraço bem apertado e um sorriso meio forçado para disfarçar o choro. Já bastava de choro.  Sim, Lua já devia estar cansada de tanto me ver chorando. Afinal, foram tantas noites angustiantes sem dormir. Foi tanta loucura, tanta depressão e melancolia, que Lua não estava aguentando mais. Então cheguei a conclusão de que para ela ficar bem eu devia me afastar. O problema estava comigo e ela estava desesperada porque não podia tirar a dor que me consumia dia após dia. Eu precisava quebrar a promessa de "nunca deixá-la". Era preciso. Foi preciso.

Então, no abraço de despedida, me passou um timelipse com todas as cenas de nossa história juntos. Sentamos na varanda, a qual costumávamos sentar todas as tardes depois do trabalho, e começamos a falar sobre nós, desde o dia que nos conhecemos até aquele momento. Parecia que aquela seria a nossa última conversa. Não era pra ser. E foi.

-"Meu raio de Sol, eu aprendi muita coisa com você. Vou sentir muitas saudades de ti, e sei que você vai voltar para mim. Eu vou esperar o quanto for necessário. Enquanto você estiver longe quero que seja  muito, mas muito feliz mesmo meu Sol." 

Sol, era assim que carinhosamente ela me chamava. Lua era do tipo de mulher romântica, daquelas que preferem uma rosa - roubada do jardim do vizinho - do que um presente caro comprado em uma loja qualquer. Uma lágrima escorreu dos seus olhos. Eu abracei-a. Era uma dor insuportável. Maior de que qualquer dor que eu já havia sentido até aquele momento. Mas era preciso. Foi preciso. 

-"Te dou a minha palavra Lua. Posso ir para muito longe, mas jamais te deixarei. Você é minha inspiração. Você me mostrou o verdadeiro amor incondicional. Você me deu a sensação de experimentar ser único no mundo. Seu amor, sua paciência e sua sensibilidade me trouxe de volta a vida."

Viver ao lado de Lua foi a melhor coisa que poderia ter acontecido em toda minha vida. Era uma pessoa mais que especial. Um anjo talvez. Nada mais prazeroso e encantador que ver suas lindas covinhas que se formavam em suas bochechas ao rir de qualquer piada sem graça que eu fazia.

-"Obrigado por ter me escolhido Lua. Obrigado por suportar todas as tardes e noites de total melancolia ao meu lado. Obrigado por acreditar em mim. Obrigado por acreditar que um dia eu sairia do meu quarto - o qual eu passei dias e noites trancado - do meu inferno egocêntrico e depressivo  e passar a viver uma vida normal. Obrigado por me fazer entender que não era meu fim."

Naquele momento, já não estava mais conseguindo respirar por causa daquele desconfortável nó que me estrangulava aos pouquinhos a garganta. Eu já não suportava mais a dor da despedida. Senti minhas pernas amolecerem e cai no chão levando Lua junto comigo. Ela me abraçou e começou a chorar junto do meu peito. Eu abracei-a e acariciei seu cabelo como se fosse a última vez. Não era pra ser. E foi a última vez.

-"Me prometa Lua. Prometa que  vai cuidar de você como cuidou de mim, enquanto eu estiver longe. Me prometa menina.  Prometa que você vai dar o melhor de ti para sempre ser feliz. Só quero que você seja feliz, Lua."

Ficamos por horas abraçados no chão da varanda, tentando eternizar aquele fim de tarde. O Sol se pondo no horizonte deu um tom alaranjado em nossas vidas só para aumentar ainda mais a nossa angústia. Por um momento, ela segurou os soluços do choro, enxugou as lágrimas e passou a mão no meu rosto.

-"Me prometa Sol, prometa que você nunca irá me deixar."
-"Prometo Lua, eu nunca irei te deixar. Hoje eu preciso ir, mas logo voltarei."
-"Vou te esperar para sempre Sol. Para todo o sempre, meu raio de luz."

Continuamos os dois abraçados ali no chão da varanda até adormecer.

No outro dia peguei minha mala, coloquei uma mochila nas costas e dei um último beijo na testa de Lua. Com uma chuvinha leve de verão, saí em direção ao meu destino. Antes de dobrar a esquina, olhei pra trás e vi Lua encostada com a cabeça no vidro da janela. Não consegui perceber se ela sorria ou chorava. Só sei que esta foi a última imagem que guardo de Lua na minha mente.

O fato é que nós dois quebramos a promessa. Eu a deixei. E quando voltei, ela não estava mais lá.

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